sexta-feira, 16 de julho de 2010

Mercado Municipal de São Paulo


Sabor, beleza e história


Por Elliana Garcia



Passear pelo Mercado Municipal de São Paulo, também chamado de Mercado da Cantareira ou Mercadão, é embarcar em uma viagem de cores e sensações que faz bem aos olhos, mente e paladar.
Com uma área de 12,6 mil metros quadrados, o prédio em estilo neoclássico, projetado pelo escritório do engenheiro e arquiteto Ramos de Azevedo, começou a ser construído na região central da capital paulista em 1928. Quando ficou pronto, em 1932, foi usado como depósito de armas e munições pelos revolucionários constitucionalistas. A inauguração só aconteceu em 25 de janeiro de 1933. Hoje, o local, que possui vitrais coloridos que mostram cenas do campo, como a lida com o gado e colheita do café, movimenta diariamente 350 toneladas de produtos e recebe aproximadamente 14 mil pessoas por dia: comerciantes, amantes da gastronomia, turistas de todos os cantos do País, donas de casa, visitantes eventuais, gourmets, entre outras, que encontram no mercado diversidade de produtos, de várias partes do mundo. Até o Rei Harald 5º, da Noruega, em sua primeira visita oficial ao Brasil, em 2003, não resistiu e foi experimentar as delícias do lugar, famoso internacionalmente pelos bolinhos e pastéis de bacalhau e sanduíches de mortadela.



Cores e Sabores


Circular pelos corredores do Mercadão é trilhar por um caminho de surpresas. As mais de 300 bancas do espaço despertam os sentidos nas suas variáveis formas: ilumina os olhos dos visitantes com a diversidade de cores, apura olfatos com diversos cheiros exalados e aguça o mais exigente paladar, além de despertar a curiosidade ímpar de conhecer itens multicoloridos e exóticos de diversas partes do Brasil e do mundo.
A pitaya, fruta de origem chinesa ou colombiana, por exemplo, é uma que atrai o nosso olhar. Parecida com a alcachofra, possui três variedades: a rosada por fora com a parte interna branca, a rosada por fora com a parte interna vermelha e a amarela, que por dentro é branca. Suas sementes parecem com a do kiwi. Pesa de 150 a 600 gramas e possui gosto adocicado, que lembra o melão. Pode ser ingerida crua ou utilizada para fazer suco ou vinho. Azedo mesmo é só o valor da fruta, que dependendo da origem pode custar até R$ 120 o quilo.
Outra fruta bastante exótica é o mangostin, ou a fruta da rainha. De origem asiática, lembra a nossa popular fruta do conde e a colombiana granadilha, que parece um maracujá. É possível também encontrar umbu - fruto originário do Nordeste brasileiro, utilizado para sucos, geléias e doces -, licuri - um coco pequeno do sertão da Bahia -, além de frutos da Amazônia, morangos americanos e frutas desidratadas.


De dar água na boca



Impossível não ficar tentada a parar em cada banca. Seja pela recepção animada dos vendedores, ou pela tentação em provar tudo que se vê pela frente. Carnes, embutidos, defumados, queijos diversos, alcaparras, grãos, pimenta, temperos, bacalhau da Noruega, azeitonas chilenas e gregas, castanhas, vinhos, azeites raros, doces árabes, chocolates. Um pedacinho de cada parte do mundo sendo representado nesse pedaço do paraíso.
Reforma
Nos anos 70, o Mercadão passou por uma crise e foi cogitada a sua demolição. Comerciantes e simpatizantes lutaram e, em 2004, aconteceu a maior reforma do local, que ganhou mezanino de 2 mil metros quadrados, destinado à praça de alimentação, com 8 restaurantes, espaço gourmet - com cozinha equipada para aulas de culinária e eventos ligados à gastronomia -, e um local reservado para shows musicais, apresentações teatrais, feiras de artesanato e eventos diversos, que atraem os mais variados públicos.


Um século de história


Se a história do Mercado da Cantareira por si só já é cheia de encanto, a de quem ajuda a fazê-la não poderia ser diferente.
Leonardo Chiappetta, de 56 anos, conheceu o Mercadão aos 10 anos. Ele acompanhava o avô, Carlo Chiappetta, imigrante italiano que veio tentar a sorte no Brasil no início do século passado. Em 1908, o avô fundou o Empório Chiappetta. Com a inauguração do mercado, em 1933, o estabelecimento mudou para lá. O pai do então menino Leonardo herdou os negócios da família. O garoto, a princípio, não queria fazer o mesmo que seus antepassados. Formou-se em engenharia mecânica e tornou-se um empresário bem-sucedido. Mas o amor e a tradição familiar falaram mais alto. Ele vendeu a empresa e deu sequência ao negócio iniciado pelo avô.
O comerciante nos conta várias histórias, entre elas a dificuldade dos imigrantes para encontrar produtos provenientes de seus países de origem. A abertura do Mercadão tinha esse intuito, de suprir a população. “O mercado era um pouco distante para muitas pessoas, mesmo assim, elas frequentavam o local duas vezes por dia. Por não terem refrigerador em casa, compravam pela manhã o que iriam utilizar no almoço e retornavam à tarde para comprar o que fariam para o jantar. Era a melhor forma de se obter produtos frescos”, lembra.
Além da tradição do negócio da família, passada de pai para filho, pergunto que lição Chiappeta herdou do avô e do pai: “Assim como eles, passei por vários momentos difíceis. Por diversas vezes a água das enchentes chegou a 1,2 metro de altura no mercado. Perdemos tudo. Mas sempre buscamos forças para recomeçar.” E é essa força de recomeçar sempre que tem perpetuado a história dessa família em São Paulo e de seu estabelecimento, fundado há 102 anos.
Visitas


O Mercado Municipal fica aberto de segunda a sábado, das 6 às 18 horas. Aos domingos e feriados, das 6 às 16 horas. O endereço é Rua da Cantareira, 306, centro de São Paulo.
O espaço também tem o serviço de visitas monitoradas, num roteiro com duração de 2 horas que acontece às terças, quartas e quintas. Para participar dessas visitas é necessário agendar com antecedência de pelo menos 24 horas. O telefone é (11) 3313-2444. Outras informações: www.mercadomunicipal.com.br .

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