terça-feira, 1 de novembro de 2011

Adriana Araújo

Repórter diz que se sente como uma iniciante, com fôlego para correr atrás das notícias, e que não deixa de se emocionar com as grandes histórias da vida


Por Elliana Garcia / Foto: Edu Moraes/Record
Diante de uma pauta ela não tem dúvida, vai fundo em busca da notícia, da forma mais profissional, mas sem deixar de lado a emoção. Nascida em Minas Gerais, Adriana Araújo, que fez uma ampla cobertura do resgate dos mineiros no Chile, conta quais os desafios de cobrir essa matéria e a emoção de ver cada um dos 33 homens resgatados.


Há quanto tempo você é repórter?

Sou repórter há 17 anos. Como o tempo passa rápido, não? Felizmente já tenho uma boa experiência na profissão que amo. Mas costumo dizer que tenho alma de iniciante e sempre terei. Para me indignar com as injustiças, me emocionar com as grandes histórias de vida e ter fôlego pra correr atrás das notícias. E repórter tem que saber correr. E como tem.

Iniciou a carreira em qual tipo de veículo?


Comecei como repórter de economia de um jornal do meu estado, Minas Gerais. Depois de 1 ano fui para a TV Globo Minas, depois para a Globo de Brasília e, desde 2006, faço parte do time do jornalismo da Record. Já são 16 anos de tevê, e foi na Record que tive as melhores oportunidades profissionais, atuando como âncora do Jornal da Record e como correspondente em Nova York.

A matéria sobre os mineiros do Chile atraiu a atenção do mundo inteiro e você ficou bastante emocionada ao relatar os fatos. Dá para exemplificar a emoção de cobrir um acontecimento como esse?

Esse foi certamente o momento mais emocionante que já testemunhei como repórter. Pude narrar ao vivo, juntamente com o apresentador Reinaldo Gottino, o resgate do primeiro dos 33 mineiros. Estava no meio do acampamento Esperança, cercada por parentes de todos os mineiros, e na hora em que Florencio Ávalos chegou à superfície, todos se abraçaram, chorando e agradecendo muito o fim daquele pesadelo. Fiquei muito comovida ao presenciar aquele momento histórico para o Chile. Foi uma lição de força, esperança e amor à vida. Jamais esquecerei.

Qual cena mais te marcou?

O reencontro das famílias, com certeza. Os filhos podendo beijar novamente os pais, abraçá-los, voltar a fazer planos. As mulheres que reencontraram seus maridos. Naquelas 24 horas de resgate, cada abraço me comoveu, cada reencontro foi marcante para mim. E, claro, a emoção e a vibração de cada um dos mineiros ao reconquistar a vida aqui fora.

Houve algo que, por falta de tempo, não tenha ido ao ar?

Tentamos levar ao ar todos os melhores momentos de tudo o que registramos. Na volta a São Paulo, recebi vários elogios das pessoas nas ruas dizendo que a cobertura da Record foi a melhor e a mais emocionante. Se conseguimos passar isto para o público, cumprimos nossa missão. Eu, o cinegrafista Humberto Lima e a produtora Rosana Mamani trabalhamos muito para sermos fiéis a toda a história que presenciamos. Com respeito às famílias, à dor e à saudade que elas viveram e toda a euforia que sentiram nos momentos de reencontro. Para eles, os 33 mineiros nasceram de novo. Nunca vou me esquecer do brilho no olhar que vi em cada um dos parentes quando mais um resgate era anunciado.

Você ficou alojada com outros jornalistas?

Na maior parte do tempo ficamos num hotelzinho bem simples na cidade de Copiapó, a cerca de 40 minutos da mina San José. A cidade estava lotada, quase nem conseguíamos vaga. Mas 48 horas antes do resgate ficamos acampados no deserto. Como a retirada dos mineiros poderia acontecer a qualquer momento, preferimos não arriscar e não arredamos mais o pé dali. Dividimos a barraca de camping com uma equipe de tevê do Uruguai. Foram momentos de muito trabalho, pouca água, almoçando e jantando biscoitos, zero de conforto, mas estávamos ali pra contar a história de 33 bravos homens que resistiram 69 dias debaixo da terra. Valeu cada segundo vivido no deserto do Atacama.

Quantos dias você passou no deserto?

Desta última vez, para mostrar o resgate, ficamos 10 dias. Desde o sábado em que a máquina perfuradora chegou ao fundo da mina até a entrevista exclusiva com o primeiro a sair, assim que ele ganhou alta do hospital. Da primeira vez que fui, quando descobriram que todos estavam vivos, foram 4 dias no deserto.

A que condições vocês tiveram que se submeter?

Além das condições citadas acima, o mais difícil foi trabalhar até 20 horas por dia, dormindo muito pouco. Na véspera do resgate foram 3 horas de sono apenas. E na noite do resgate, apenas cochilamos. E também ficar sem banho por quase 60 horas. Mas fiquem tranqüilos, que já botei tudo em ordem outra vez, o sono e os banhos, claro.

Além dessa matéria, dá para citar outras que tenham te marcado?

Nossa, foram muitas. Então vou citar as mais recentes: a entrevista exclusiva com o presidente Lula, em julho deste ano, assim que retornei de Nova York. Foi a entrevista em que o Lula chorou ao relembrar momentos do governo dele. Houve uma repercussão mundial pela emoção do presidente. Meu mérito foi apenas respeitar o momento dele, saber ouvir. Nos Estados Unidos foi muito marcante cobrir a morte de Michael Jackson. Pude entrar no Staples Center, na cerimônia de velório e despedida dos fãs e foi bastante emocionante também.

Como foi a experiência de viver longe de sua pátria?

Trabalhei como correspondente em Nova York por 1 ano. Foi uma grande experiência. Em julho passado voltei ao Brasil. Quero ser agora uma correspondente ambulante, correndo o mundo atrás de boas histórias, como a dos mineiros do Chile. Onde houver notícias quentes, fatos de grande repercussão, certamente quero estar.

Quais as suas aspirações como jornalista, já que você foi repórter de rua, âncora de telejornal e correspondente internacional?

Ser âncora do Jornal da Record por 3 anos foi uma grande oportunidade profissional. Adquiri bastante experiência ao lado do Celso Freitas e tenho orgulho do trabalho que desenvolvemos juntos. Sair do jornal parecia difícil inicialmente, mas isto também me trouxe novas possibilidades profissionais, como a de ser correspondente. Aprendi que o verdadeiro âncora não precisa de bancada, pode trabalhar na rua, acompanhando os grandes fatos, fazendo os plantões e coberturas ao vivo, onde a notícia está. Isso é o que me realiza profissionalmente.


Fonte: http://www.arcauniversal.com/entrevistas/noticias/adriana-araujo-2554.html

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